A estratégia europeia de bloqueio dos media estatais russos

A UE está em guerra? Não. Mas há guerra na Europa? Sim. Logo, a restrição de direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos da UE não devem ser restringidos sem escrutínio democrático e racionalidade legal.

A UE está em guerra? Não. Mas há guerra na Europa? Sim.

Nenhum socialista, liberal ou social-democrata está a favor da difusão de meios de desinformação e manipulação da informação, para mais subordinada a um líder lunático de um regime autocrata de uma nação invasora, mas confesso que me custa a engolir esta decisão do Conselho da União Europeia – de banir do espaço europeu o canal de televisão "Rússia Today" e a agência de notícias "Sputnik" – sem qualquer processo de avaliação e discussão democráticas.

Parece-me um tiro no pé...

É certo que os serviços secretos e militares terão sempre acesso a eles, mas não me parece que seja democrático (e até inteligente) impedir cidadãos europeus a essas notícias. Mais ainda quando já tivemos a retaliação do Kremlin em banir meios de comunicação europeus na Rússia, perdendo-se uma excelente oportunidade, das poucas aliás, de os russos acederem a comunicação não censurada.

Como não sou especialista militar não sei ir mais além nesta disciplina, mas percebo alguma coisa de estado de direito e direito constitucional e europeu, e não sei como tal seja "legal" e "racional" restringir liberdades fundamentais em "estado de paz".  

Mais valia que fosse iniciado desde já o processo nacional e europeu de congelar ativos, neutralizar lavagem de dinheiro e "confiscar" bens financeiros e económicos e empresas, incluindo off-shore, dos chamados oligarcas russos e seus familiares diretos em território europeu.

Seria uma ordem de políticas públicas, nacionais e europeia, que os russos poderiam ver como exemplo da "Europa livre e democrata" a seguir, ficariam provavelmente agradecidos e até contribuiria para os ajudar a substituir o atual regime por outro mais "europeu".

Com esta decisão de bloqueio sem escrutínio, parece-me que é dar mais um argumento a Putin para levar a cabo a lavagem cerebral russa, tanto da sua entourage quanto do povo russo em geral.

Nem o argumento contrário de que tal inédito precedente europeu será um aviso sério para os Estados-Membros que restringem internamente "a liberdade e o pluralismo" dos meios de comunicação, ainda assim parece-me que só duplica o "tiro".

Pesquisa